segunda-feira, 23 de março de 2015

Eu sou o seu ex.


Som: Not a bad thing, Justin Timberlake

Sou um plano que um dia mesmo eu acreditei que fosse dar errado. Falo isso não por dores exaustivas do novo mal do século, mas pelo simples fato de que nunca vivi uma vida lá bem esperançosa. Sabe quando tem aquele lance cético de que isso é isso e nada vai mudar, pois é. 

Engano meu. Sorte a sua. Graças a Deus.

Minha vida foi um gráfico de pizza interessante, Durante a infância tinha pudores  - algo bem óbvio. Na adolescência perdi a vergonha, tomei alguns goles, socos e tapas na cara. Não me redimi. Não foi dessa vez. Malandragem era meu contexto. Perigo era meu lar. Um sinônimo para merdas da juventude era o que eu fazia. No mais, sobra; no menos, só a vontade de trapacear o universo melhor que a última tentativa. 

Casei com a juventude na primeira oportunidade: fui pra longe de casa, passei mais de uma semana, perdi o rumo, o prumo e quase esqueci do meu juízo. Lutei para não voltar à realidade, mas aí, a música parou e não deu mais. Voltamos aos conformes da sociedade e de uma alma que todos diziam que estava na hora de amadurecer - mas que por dentro dizia apenas estar em estado de férias.

Eu tive as melhores oportunidades da vida. Só não sabia que a maior ainda estava por vir. 

Sempre fui um trapaça amoroso, sabe? Daqueles que não levava muito a sério esse lance de estar ligado realmente em alguém. Até que um dia as coisas não deram mais certo e eu me vi em minha estranha companhia. Girei tanto que fiquei só. 

Estar sozinho teve requinte de crueldade. As noites realmente tinham o poder de serem negras e as manhãs, cinzas. E a gente ainda tinha que continuar a fingir que o arco-íris ia surgir em três minutos depois que se saísse de casa. Mas ele não vinha e tudo ficava igual. Comecei a fazer uma viagem pelas minhas constantes. E vi que realmente algo bom precisava acontecer para que eu pudesse dar um novo gás a minha vida, ou nem diria isso, mas que algo devia acontecer para que as demais coisas acontecessem. Coisas boas, legais e divertidas. Realmente significativas. 

Tipo você. 


Porque, sim, eu confesso: minha natureza masculina muitas vezes faz de nós passarinhos em gaiolas. Um lance de que a gente pode tudo e também, ao mesmo tempo, não pode nada: eu poderia ser o macho alfa entre os amigos, mas jamais poderia fazer isto que eu estou fazendo agora. Não sei se isso tem cara de declaração; não sei se o intuito é esse, nem sei ao certo se eu te amo. Só sei que algo de muito especial está acontecendo aqui comigo e que a única certeza que eu tenho é em querer levá-lo em frente  e ver no que pode dar. Sim, a tal coisa boa, alegre e divertida está acontecendo agora e não, eu não quero que isso acabe tão logo. 

Nunca imaginei que esses lances de candidatas ao grande amor da nossa vida (ou coisa do tipo) pudessem acontecer, e cá estou eu, me vendo numa condição de ex: ex-medroso; ex-desleixado, ex-desligado, ex-desalmado, ex-formatado culturalmente. Nem nos longínquos espaços de minha sapiência poderia supor que isso pudesse acontecer. Sim, meu bem, sou seu ex-iludido, um ex-inocente da arte desse lance confortante que é o amor. Sou seu ex-caçador de aventuras, sou o ex-ex-mais-odiado pela minha ex-namorada. Sou um ex-desqualificado do coração. 

Eu sou um ex-tanta-tralha que a única coisa que eu peço é que me deixe ser algum bem atual na tua vida. Mas algo bom, sabe? Legal, construtivo, que te faça bem e, sobretudo, que te faça feliz. Eu cansei de ser o "ex" das pessoas. Cansei de ser a lembrança, o personagem da foto, o protagonista de novelas mexicanas regadas à lágrimas. Não, eu também não quero ser herói - porque eles morrem  e voltam a ser memórias uma hora dessas outra vez. Quero ser uma parte do seu hoje, para ter a chance de tão cedo não ser o que eu já fui um dia.

Quando a coisa boa, alegre e divertida, realmente significativa, ainda não era você.


Um comentário:

  1. Que bárbaro! Doeu aqui devagarinho. Doeu porque o passado ainda dói em mim...
    Adorei!
    Beijoo'o

    ResponderExcluir