domingo, 4 de setembro de 2011

Aquele pedido que só você me fez


" - Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
- Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
"
(Alice no País das Maravilhas)

Você pediu para que eu virasse a página. Pediu que eu recolhesse alguns cacarecos que eu sempre esquecia em algum espaço seu. Pediu-me que escolhesse entre o mais apropriado, o mais adequado e a próxima sugestão. Confesso que, apesar de ter um  relacionamento íntimo e meio que diferenciado com as palavras, demorei a entender tal mensagem. Apenas demorei. Pegar uma sacolinha para guardar meus tais cacarecos; deixar o frasco de perfume cair no chão e espatifar-se por inteiro e, ali mesmo, deixar aquele cheiro para trás; rasgar as fotos da memória e, doá-las a alguma instituição para corações sorrateiros; além dos filmes de uma love song que só tocou em uma caixa de som. Nada fácil. Nada abandonado por inteiro. Mesmo assim, aquele pedido que você me fez -  e que eu aceitei -, ainda está de pé. Talvez o que eu precise realmente é de uma temporada de "Eat, Pray, Love"...apenas "Eat, Pray, Love". Contudo, o pedido que me fizeste foi tão especial, tão bom, tão..tão...que não tenho palavras concretas para agradecer-te. Aquele pedido que só você me fez não se restringe apenas a (re)começar, mas solicita que eu própria me solicite. Que eu me conheça, que eu me dedique; que, por meio segundo eu possa me entregar às ordens de Narciso e tudo mais. Que eu me torne minhas próprias lembranças. Que eu seja metalinguística. Aquele pedido que só você me fez me ensinou que dois podem parecer dois e na verdade, serem nenhum e nem outro. Mostrou-me que se um quiser, dois podem ser um  e que você pode ser muitos sendo um também. Mas, acima de qualquer razão, que EU deva ser apenas uma - sendo uma, estando em dupla ou pensando em ser três. O teu pedido fez com que eu resgatasse meu Jonhson Baby esquecido no armário, alguns contatos no meu telefone, novas referências bibliográficas para a psicologia moderna, um perfume novo, mais um livro denso e tempo, muito tempo para não transformar o vazio em você. Aquele pedido que só você me fez, sem emitir uma só palavra, um só rabisco, é o guia que vou levando agora, entre minhas mãos...atenta para não perdê-lo. E eu te agradeço: SEMPRE. Você, sem querer, pediu-me para ter luz própria; para expandir horizontes e para entender sobre vinhos. Lembrou-me para que não me entregasse à generalização do mundo, a sofisticação e ao cultismo de outras cem mil léguas, sem antes avaliar os lados e as moedas. Você nem considera o significado do sete, mas tudo bem. O pedido que só você me fez incluía, inclusive, aprender a escrever (e assinar) as laudas dos começos, dos meios e dos fins.


"E todos os dias ficarei tão alegre que incomodarei os outros." 
(Clarice Lispector)

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