domingo, 10 de julho de 2011

A menina do perfume

Outro dia, estava eu a correr para o trabalho, em mais um de meus atrasos. Saltei do segundo ônibus, no Terminal de Integração, rumo ao terceiro coletivo. Porém, precisei dar uma passada rápida no banheiro para uma eventual troca de blusas. Ok. Ao adentrar o recinto, deparei-me com uma menininha: aparentava ter uns sete anos de idade; magrinha, possivelmente moradora de rua e que, entre as pequenas e inocentes mãos, carregava quatro biscoitos de chocolate. Ela passeava pelo banheiro. Saía. Voltava. Durante sua última volta, eu, com minha mochila aberta, retirei um frasco de perfume e comecei a descarregar em mim. Foi quando a pequena olhou-me, curiosa, mais uma vez inocente e, com toda a sua delicadeza, apesar das maçancinhas do rosto estarem meio sujas, perguntou-me: "Passa um pouquinho em mim, moça?". Eu a vi, bem dentro dos olhos...e era linda, pura, criança e carente. A vontade que senti era de pegá-la e levá-la comigo. Seu corpanzil deixava entrever a fome: a fome de um lar, a fome de uma mãe e a fome de uma alegria. Eu não sei exatamente o que "se perfumar" significava para ela. Não sei se eram as borrifadas divertidas ou se era a sensação do cheiro bom que a vida pode proporcionar. Não conseguia captar muita coisa: eu estava parada a olhar aquela pequena alma....guardando os biscoitos para uma hora mais oportuna, talvez. Não lhe neguei o pedido: "Claro. [...] Pronto, agora você está cheirosa!" Disse eu, feliz em poder vê-la um pouco mais distante de sua triste realidade. E ela respondeu-me: "Obrigada!". E atravessou a porta. Não preciso explicar o quanto a presença daquela menina significou em minha vida. Ela se foi, sim. Mas um pouco dela ainda está mim. Ela havia me escolhido.


"Nessas horas é que Deus deixa pistas
Pra eu ser feliz..."
Leoni

7 comentários:

  1. Nem preciso dizer que fiquei tocado e chorei,né?Nossa!!Ai,sem palavras!!

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  2. Amigo, também chorei. Respirei fundo....e continuei. Precisava falar dela. Precisava dela aqui.

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  3. É real, é simplesmente lindo e tocante. A simplicidade em essência é doce e pura, e convive com a realidade brusca e crua pagando um alto preço para se manter viva. Essa simplicidade que muitos procuram e poucos encontram, fazia parte da aura doce e singela da "pequena criatura" a qual se comenta. Cada pessoa teria uma reação para o fato que foi contado se o tivesse vivenciado e sentido na pele o que ele poderia causar, mas algo impossível de negar e que todos com muita certeza diriam como experiência universal de vida: " a vontade que tive era de abraçá-la e viver com ela a pureza que continha em seu coração". Eu diria isso.

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  4. São tantos os que nos escolhem todos os dias...
    Um real propósito ou a consciência do "porquê estamos aqui" esteja por trás dos olhos inocentes daquela criança, curiosa pelo o que não tinha ou desejava ter... e quantos mais estão a cruzar nosso caminho?... que eles então nos escolham; ou nós a eles...

    Lindo!

    Beijos!

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  5. Antônio e "Caleb" (muito interessante esse pseudônimo, Ricardo)...


    não sei como ainda deixamos, por muitas maneiras, DEUS escapar...

    Muito obrigada!! Beijo grande!!

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  6. Oi flor, passei por aqui e gostei muito.
    Seguindo.
    Retribui??

    http://somdospassos.blogspot.com/

    Bei-jos

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